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Geo Síntese

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A Retirada das Tropas dos EUA do Afeganistão: Uma Nova Derrota e Seus Implicações Geopolíticas

A retirada dos EUA do Afeganistão, após 20 anos, revela desafios geográficos e estratégicos, enquanto a China expande sua influência na Nova Ordem Mundial.

A retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão vem ocorrendo gradualmente desde o acordo de paz assinado entre os Estados Unidos e o Talibã em fevereiro de 2020, em Doha, no Catar, durante o governo de Donald Trump. Essa retirada era uma promessa antiga, desde o governo de Barack Obama. Entre os vários objetivos dos EUA no Afeganistão, como a derrota do Talibã, o estabelecimento de um Estado laico e a captura e morte de Osama Bin Laden, apenas o último foi plenamente alcançado.

Investimentos e Descontentamento

Os EUA investiram trilhões de dólares no Afeganistão, cobrindo custos com treinamento, logística, armamentos e pensões para soldados feridos ou mortos. Esse investimento contínuo desapontou uma grande parcela do eleitorado americano, que via seus impostos sustentarem um conflito que se tornou o mais longo da história do país, superando até mesmo a Guerra do Vietnã.

A nova derrota dos EUA, que permitiu ao Talibã retomar a capital Cabul 20 anos depois, pode ser atribuída, em parte, à mesma razão que causou a derrota americana no Vietnã: a geografia.

A Geografia do Afeganistão

O Afeganistão ocupa uma posição estratégica, conectando o Oriente Médio, a Ásia Central, a Ásia Meridional e o Extremo Oriente. O país faz fronteira com o Uzbequistão, o Turquemenistão, o Tajiquistão, a China, o Paquistão e o Irã. Seu clima predominantemente árido, com variações extremas de temperatura e tempestades de areia frequentes, dificulta a movimentação e a visibilidade das tropas armadas, mesmo as mais bem equipadas.

O relevo do Afeganistão é dominado pelas montanhas acidentadas do Hindu Kush, uma região de grande instabilidade geológica que causa fortes terremotos e deslizamentos de terra. A Bacia do Sistão, localizada entre o sudoeste do Afeganistão e o sudeste do Irã, é uma das regiões mais secas do mundo. Ao leste, a cadeia de montanhas Spin Ghar abriga um complexo de cavernas. Essas condições naturais renderam ao Afeganistão o título de “Cemitério dos Impérios”, já que nem o Império Russo, a União Soviética, nem o Império Britânico conseguiram superar suas adversidades geográficas.

A Origem do Talibã

Para entender o ressurgimento do Talibã, é importante revisar alguns eventos históricos. Em 1979, a invasão soviética no Afeganistão desencadeou uma guerra contra insurgentes que se opunham ao regime comunista. Os mujahidins, um dos grupos insurgentes, receberam apoio significativo dos Estados Unidos e do Paquistão, incluindo treinamento e fornecimento de armas. Esse conflito foi até retratado no filme “Rambo 3”, que mostra o soldado americano lutando ao lado dos mujahidins.

Nos anos 1990, após a retirada soviética, os mujahidins, fortalecidos, se reorganizaram como Talibã, com o objetivo de estabelecer a Sharia (lei islâmica) e afastar a influência ocidental. Em 1994, o Talibã começou a ocupar importantes centros urbanos, culminando na tomada de Cabul em 1996. O Afeganistão então se tornou um centro de treinamento para grupos terroristas, incluindo a Al-Qaeda, responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001.

As Consequências dos Ataques de 11 de Setembro

Como resposta aos ataques de 11 de setembro, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão poucas semanas depois, derrubando o regime Talibã. Apesar de enfraquecerem significativamente o grupo, os EUA nunca conseguiram eliminá-lo por completo durante os 20 anos de ocupação.

A Nova Ordem Mundial e o Papel da China

Enquanto os EUA lidavam com a retirada e as consequências de sua longa presença no Afeganistão, a China assumiu um papel estratégico. Iniciou negociações com o Talibã para evitar a influência rebelde em sua província de Xinjiang e, ao mesmo tempo, avançou com seus projetos da Nova Rota da Seda, expandindo sua influência geopolítica. A saída dos EUA do Afeganistão abriu um espaço que a China está prontamente preenchendo, consolidando cada vez mais sua posição na Nova Ordem Mundial.

A retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão simboliza mais do que o fim de uma longa guerra; ela marca um ponto de inflexão na geopolítica global. Assim como a derrota no Vietnã, a saída do Afeganistão evidencia as dificuldades enfrentadas pelos EUA em conflitos prolongados contra forças insurgentes em terrenos desafiadores. Ao mesmo tempo, a ascensão da China como uma potência geopolítica sugere uma nova dinâmica no cenário global, onde o vácuo deixado pelos EUA é rapidamente preenchido por novas lideranças emergentes.

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