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Água de bordo: o novo concorrente natural dos refrigerantes

Embora a ideia de beber seiva de árvore possa parecer inusitada à primeira vista, produtores canadenses apostam que a água de bordo será a próxima tendência mundial em bebidas saudáveis. Com um sabor suave e levemente adocicado, esse líquido natural extraído das árvores de bordo vem conquistando consumidores não apenas no Canadá, mas em diversos países ao redor do mundo. Mas o que torna essa bebida tão especial? E será que ela tem potencial para rivalizar com sucessos como a água de coco?

O que é a água de bordo?

A maioria das pessoas já ouviu falar do xarope de bordo — ou maple syrup —, aquele líquido espesso e dourado frequentemente utilizado como cobertura para panquecas. Ele é produzido ao se ferver a seiva extraída das árvores de bordo, concentrando seus açúcares naturais. No entanto, o que poucos sabem é que essa mesma seiva pode ser consumida diretamente, antes de passar pelo processo de fervura. Quando filtrada e pasteurizada, ela se transforma em uma bebida límpida conhecida como água de bordo.

Com apenas 2% de açúcares naturais, a água de bordo possui um sabor suave e ligeiramente doce, o que a torna uma opção mais saudável em comparação com os refrigerantes tradicionais. Além disso, é rica em antioxidantes, minerais e outros compostos bioativos que podem beneficiar o organismo. Segundo a nutricionista Beth Czerwony, da Cleveland Clinic, esses antioxidantes auxiliam no combate aos radicais livres, podendo contribuir para uma melhor recuperação pós-exercício. Entretanto, um estudo de 2019 apontou que a água de bordo não apresenta vantagens superiores à água comum em termos de reidratação.

O mercado em ascensão

O Canadá, responsável por mais de 80% da produção global de xarope de bordo, é também o berço da nascente indústria da água de bordo. A província de Quebec, que sozinha produz 90% do xarope canadense, lidera esse novo setor. Entre os pioneiros está a Maple 3, fundada em 2013 por Yannick Leclerc e Stéphane Nolet. Inicialmente, poucos haviam considerado a possibilidade de comercializar a seiva como bebida hidratante, mas a empresa apostou nessa inovação e vem colhendo resultados promissores.

Desde 2021, a Maple 3 tem dobrado seus lucros anualmente, com 75% das vendas provenientes do mercado internacional. A marca oferece tanto a versão natural da água de bordo quanto versões gaseificadas com sabores naturais de frutas, como limão, toranja e laranja. Essa diversificação do portfólio tem sido essencial para atrair diferentes perfis de consumidores.

De fato, a indústria da água de bordo como um todo está em expansão. Um relatório recente estimou que as vendas globais atingiram US$ 506 milhões em 2024, com previsão de crescer para US$ 2,6 bilhões até 2033. Apesar de esses números ainda estarem distantes dos US$ 7,7 bilhões movimentados pela água de coco em 2023 — com projeção de alcançar US$ 22,9 bilhões até 2029 —, o crescimento acelerado indica um mercado promissor.

Desafios para conquistar o mercado global

Apesar do otimismo, a popularização da água de bordo enfrenta alguns obstáculos. Jeremy Kinsella, proprietário da The Soda Pop Bros, em Windsor, Ontário, ressalta que, para se tornar mainstream, a bebida precisará do apoio financeiro e da estratégia de marketing de grandes fabricantes de refrigerantes. Além disso, o preço ainda é um fator limitante. Enquanto uma lata de refrigerante comum custa cerca de um dólar, a água de bordo pode custar três vezes mais, o que dificulta sua competitividade no mercado de bebidas não alcoólicas.

Outro desafio é tornar o produto mais atraente ao paladar do público em geral. Embora a versão pura da água de bordo tenha seus apreciadores, muitos consumidores preferem opções com sabores adicionais. John Tomory, da Pefferlaw Creek Farms, em Uxbridge, Ontário, destaca a importância dessa estratégia: “Apenas vender a seiva básica da árvore não conquistou muitos consumidores. Carbonizar a bebida e adicionar sabores naturais de frutas é a verdadeira inovação.” A parceria da Pefferlaw Creek Farms com a marca canadense Sap Sucker, que oferece versões aromatizadas de água de bordo, exemplifica esse movimento em direção a uma maior aceitação popular.

Sustentabilidade e apelo natural

Um dos principais atrativos da água de bordo é seu apelo natural e sustentável. A extração da seiva é feita através da técnica conhecida como “roscar” as árvores, que consiste em perfurar o tronco e inserir um pequeno tubo para coletar o líquido. Esse processo é realizado de forma cuidadosa, sem prejudicar o crescimento ou a saúde da árvore. Como resultado, a produção de água de bordo é considerada uma prática ecologicamente responsável.

Além disso, o fato de ser uma bebida natural, sem aditivos artificiais ou conservantes, atende à crescente demanda dos consumidores por produtos mais saudáveis e ecológicos. Esse fator é especialmente relevante em um contexto em que o mercado de alimentos e bebidas busca cada vez mais opções que combinam saúde e sustentabilidade.

O futuro da água de bordo no mercado global

O crescimento acelerado do setor e a aceitação crescente em mercados internacionais indicam que a água de bordo tem potencial para se tornar um produto de destaque no cenário global. Contudo, seu sucesso dependerá de estratégias eficazes de marketing, parcerias com grandes fabricantes e, principalmente, da capacidade de oferecer um produto competitivo em termos de preço e sabor.

Enquanto isso, para os consumidores que buscam uma alternativa natural, refrescante e com benefícios à saúde, a água de bordo já se apresenta como uma opção atraente. Se, no futuro, ela conseguir rivalizar com gigantes como a água de coco ou os refrigerantes tradicionais, ainda é uma questão em aberto. Mas uma coisa é certa: a floresta canadense, em sua forma mais pura, já começou a conquistar o paladar do mundo.