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Geo Síntese

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Alimento para o pensamento: alimentar o mundo e suas implicações climáticas

Em meio à discussão global sobre a crise climática, é comum visualizar cidades congestionadas e indústrias poluentes como principais vilãs. No entanto, os pastos e campos agrícolas também desempenham um papel crucial, contribuindo significativamente para as emissões de gases de efeito estufa.

De acordo com a FAO, o sistema alimentar global é responsável por uma parcela substancial das emissões antropogênicas. Estima-se que a produção de alimentos gere 21% das emissões totais de dióxido de carbono, 53% das de metano e 78% das de óxido nitroso, essencialmente derivadas do uso da terra, respiração animal e fertilizantes. Essas emissões, calculadas como 17 bilhões de toneladas de CO2 equivalente ao longo de um século, representam aproximadamente 31% de todas as emissões humanas.

Surpreendentemente, a agricultura frequentemente é negligenciada nas negociações climáticas internacionais, como evidenciado nas COPs. Ao contrário das indústrias de combustíveis fósseis, a agricultura carece de lobbies poderosos, embora a segurança alimentar seja um imperativo universal. Este setor enfrenta desafios significativos, incluindo o aumento da produção para atender ao crescimento populacional global, que desde 2000 aumentou 54% para 9,5 bilhões de toneladas de commodities agrícolas primárias.

Embora seja viável um sistema alimentar mais sustentável, sua implementação enfrenta resistência e desafios complexos. A União Europeia, por exemplo, propôs reduzir o uso de pesticidas e fertilizantes, promover práticas agrícolas orgânicas e restaurar terras através do pousio. Contudo, estas medidas encontraram resistência significativa de agricultores, afetados por mudanças climáticas adversas e aumento dos custos de energia.

Um dos maiores impactos ambientais da agricultura é o uso intensivo de terras para a produção de carne. Globalmente, a produção animal consome oito vezes mais terras do que a produção vegetal, impulsionando significativamente o desmatamento. Além disso, a criação de animais ruminantes, como bovinos, contribui para as emissões de metano devido à sua digestão. A pecuária é responsável por emitir 31 vezes mais CO2 por caloria do que alternativas como tofu.

Em um esforço otimista, projetos de plantio de árvores foram propostos como uma forma natural de absorver CO2 atmosférico. No entanto, pesquisas recentes sugerem que, em climas mais quentes e secos, a capacidade das árvores de sequestrar carbono pode diminuir, aumentando o desafio de mitigar as mudanças climáticas.

Para alcançar uma verdadeira sustentabilidade, é imperativo abordar não apenas as emissões de carbono, mas também as de outros gases de efeito estufa associados à agricultura. Isso inclui a redução do desmatamento, restrições ao uso de pesticidas e fertilizantes, e uma mudança significativa nos padrões de consumo de carne.

Portanto, a transição agrícola para um sistema alimentar mais sustentável não é menos urgente que a transição energética. Ambas são cruciais para enfrentar os desafios da mudança climática e garantir a sustentabilidade futura do nosso planeta.

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