No dia 12 de janeiro de 2024, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou uma conquista significativa na luta contra a malária: Cabo Verde foi certificado como o terceiro país africano a erradicar a malária. Este reconhecimento coloca o arquipélago junto às Maurícias e à Argélia, que receberam o mesmo status em 1973 e 2019, respectivamente. A certificação é um marco importante, não apenas para Cabo Verde, mas para a luta global contra uma das doenças mais desafiadoras da medicina tropical.
O Processo de Certificação da OMS
A certificação de um país como livre de malária pela OMS exige um processo rigoroso e detalhado. Para ser concedida, o país deve demonstrar, além de uma dúvida razoável, que a transmissão local de todos os parasitas humanos da malária foi interrompida por pelo menos três anos consecutivos. Além disso, devem estar em vigor medidas efetivas para impedir o restabelecimento da doença. Esse processo não é simples e envolve uma avaliação meticulosa das estratégias de controle e eliminação da malária implementadas pelo país.
O Contexto Histórico de Cabo Verde
Cabo Verde, um arquipélago situado a cerca de 1.000 quilômetros da costa da África Ocidental, é composto por 10 ilhas vulcânicas e tem uma população de pouco menos de 600.000 habitantes. A malária tem sido uma preocupação constante desde a colonização do arquipélago no século XVI. Na década de 1950, o país enfrentava cerca de 15.000 casos de malária por ano, representando aproximadamente 10% da população.
Progressos e Desafios na Erradicação
O progresso no controle da malária em Cabo Verde tem sido notável. Entre 2010 e 2019, foram relatados 819 casos de malária, refletindo uma redução significativa em comparação com décadas anteriores. No entanto, um surto em 2017 apresentou um obstáculo significativo, frustrando os esforços anteriores de eliminação da doença. Este surto destacou a necessidade de intensificar as medidas de controle e prevenção.
Em resposta, Cabo Verde implementou uma série de estratégias eficazes para combater a malária. Entre as principais abordagens estavam a pulverização de inseticida residual em interiores de casas e edifícios, o controle da malária nos pontos de entrada, como portos e aeroportos, e a melhoria das técnicas de detecção, diagnóstico e tratamento da doença. A implementação dessas estratégias resultou na interrupção da transmissão endêmica de malária em Cabo Verde por mais de quatro anos.
Medidas de Controle e Sustentabilidade
Embora a certificação pela OMS represente uma grande vitória, a luta contra a malária não termina com o reconhecimento. A alta mobilidade entre as ilhas e a proximidade com a África continental, onde a malária continua a ser altamente endêmica, significa que há um risco constante de reintrodução da doença. Portanto, Cabo Verde precisará manter e reforçar suas medidas de controle para garantir que a malária não retorne.
O continente africano continua a enfrentar um alto fardo de malária, sendo responsável por aproximadamente 95% dos casos globais e 96% das mortes relacionadas em 2021. A luta contra a malária é uma batalha contínua que exige vigilância constante e uma abordagem coordenada para garantir a eliminação da doença em outras regiões do continente e globalmente.
A certificação de Cabo Verde como livre de malária é um exemplo inspirador de sucesso na luta contra uma das doenças tropicais mais devastadoras. Este feito não apenas destaca a eficácia das medidas de controle e eliminação implementadas pelo país, mas também serve como um modelo para outras nações enfrentando desafios semelhantes. Com a continuidade dos esforços e a implementação de estratégias de controle eficazes, há esperança de que mais países possam alcançar o status de livre de malária no futuro próximo.