Pular para o conteúdo

Geo Síntese

Geo Síntese

Início » Calor Extremo no Sahel: Impactos das Mudanças Climáticas e Desafios Humanitários

Calor Extremo no Sahel: Impactos das Mudanças Climáticas e Desafios Humanitários

Abril na região do Sahel, uma vasta faixa semiárida entre o Saara e as regiões tropicais da África Ocidental, nunca é uma época confortável. As temperaturas frequentemente atingem 40°C, enquanto densas nuvens de poeira e areia, resultantes das tempestades de areia do Saara, reduzem a visibilidade a poucos metros e cobrem tudo com uma fina camada de poeira. Simples tarefas como atravessar uma estrada se tornam desafios, com o asfalto derretido grudando nos sapatos e o calor irradiando do solo como se estivesse derretendo.

Este ano, no entanto, foi ainda mais severo do que o habitual. Um evento de calor extremo no final de março e início de abril ceifou muitas vidas em questão de dias. Cientistas atribuem as mudanças climáticas antropogênicas como a principal causa, prevendo que o Sahel experimentará ondas de calor mais frequentes e intensas no futuro próximo.

O Sahel estende-se do norte do Senegal até a Eritreia, caracterizando-se por seu clima quente e seco, sendo uma zona de transição crítica entre o Saara e as regiões mais ao sul. Habitantes locais, já acostumados a altas temperaturas, foram surpreendidos pela magnitude da última onda de calor. Países como Mali, Burkina Faso, Níger, Senegal, Guiné, Nigéria e Chade registraram temperaturas extremas, com máximas médias chegando a 45°C. Em Kayes, Mali, a temperatura atingiu 48,5°C em 3 de abril, enquanto Burkina Faso não viu temperaturas mínimas inferiores a 32°C. Em nações frequentemente entre as mais pobres do mundo, cortes de energia tornaram ainda mais difícil para a população enfrentar o calor extremo.

Em contextos mais desenvolvidos, o número de mortes por ondas de calor muitas vezes é subestimado e só se torna claro meses depois. Contudo, a gravidade da recente onda de calor do Sahel tornou-se evidente quase imediatamente, com um aumento acentuado nas internações hospitalares e mortes no hospital Gabriel Touré em Bamako, Mali, entre 1 e 4 de abril. Durante esse período, foram registradas 102 mortes, um aumento significativo em relação às 130 mortes registradas ao longo de todo abril do ano anterior. Embora a causa específica das mortes não tenha sido confirmada, muitos dos falecidos eram idosos, sugerindo um papel significativo do calor nas fatalidades.

Logo após o término da onda de calor, uma equipe internacional de cientistas analisou dados meteorológicos de cinco dias entre 30 de março e 4 de abril, focando nas regiões mais afetadas do sul do Mali e Burkina Faso, além de uma área mais ampla que inclui partes do Níger, Nigéria, Benin, Togo, Gana, Costa do Marfim, Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau e Guiné, onde as temperaturas ultrapassaram consistentemente os 40°C.

A análise revelou que tanto as altas diurnas quanto as noturnas durante a onda de calor foram exacerbadas pela mudança climática antropogênica, elevando as temperaturas máximas em 1,5°C e as noturnas em 2°C na região de Burkina Faso e Mali. Para a região mais ampla, as temperaturas diurnas aumentaram em média 1,4°C ao longo dos cinco dias.

Os cientistas concluíram que eventos de calor extremo, como os observados no Sahel, que normalmente ocorreriam uma vez a cada 30 anos, podem agora tornar-se eventos decenais. Em áreas como o sul do Mali e Burkina Faso, tais condições podem ocorrer apenas uma vez a cada 200 anos sob o clima atual. A mudança climática está, portanto, preparando o terreno para a frequência muito maior desses eventos extremos.

Esses resultados alertam para a necessidade urgente de adaptação e mitigação climática no Sahel e em outras regiões vulneráveis. A implementação de políticas e práticas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa, juntamente com estratégias de adaptação local, são cruciais para proteger as populações contra os impactos crescentes do calor extremo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *