Geo Síntese

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Chimpanzés e Plantas Medicinais: Descobertas da Reserva de Budongo

 

Há oito anos, eu estava na nação da África Ocidental da Guiné, realizando uma pesquisa para a revista Geographical Sobre o impacto do Ebola em chimpanzés e outros grandes macacos. Durante essa investigação, tive a oportunidade de conhecer o primeiro primatologista do país. Em uma tarde silenciosa, sentado em sua casa fria e escura, discutimos extensivamente sobre os chimpanzés. No entanto, uma parte da conversa se destacou e permanece gravada na minha memória.

O primatologista revelou um fato fascinante: ao longo dos anos observando os chimpanzés, ele havia notado um comportamento peculiar. Quando um chimpanzé estava doente, ele buscava plantas específicas na floresta para se tratar. Intrigado por essa descoberta, o primatologista decidiu reunir as folhas, frutas e cascas que os chimpanzés doentes pareciam utilizar. Com base nessas observações, ele criou sua própria medicação, alegando que ela poderia ‘curar quase tudo’. Após se aposentar da biologia de campo, ele se tornou a guérisseur (curandeiro tradicional) e passou a usar essa medicação secreta para tratar seus pacientes.

É amplamente reconhecido que as florestas tropicais são verdadeiras farmácias naturais, com uma diversidade de plantas cujas propriedades curativas estamos apenas começando a compreender. No entanto, confesso que senti um certo ceticismo em relação à eficácia da medicação do guérisseur. Recentemente, no entanto, um novo estudo trouxe à tona evidências que sugerem que eu talvez tenha subestimado o conhecimento médico tradicional do guérisseur – e, por conseguinte, dos chimpanzés.

A pesquisa foi conduzida pela Dra. Elodie Freymann, da Universidade de Oxford, e envolveu um estudo aprofundado de duas comunidades de chimpanzés na Reserva Florestal Central de Budongo, em Uganda. Ao monitorar de perto as ações e comportamentos de chimpanzés doentes ou feridos, a equipe observou um fenômeno semelhante ao que o primatologista havia notado: os chimpanzés procuravam plantas, frutas ou cascas de árvores específicas, muitas das quais não eram parte de sua dieta habitual. Esse comportamento intrigante levou os pesquisadores a coletar e testar amostras dessas plantas.

Os resultados foram surpreendentes. A análise revelou que 88% das amostras continham extratos com propriedades que inibem o crescimento de bactérias, incluindo a temida E. coli. Além disso, cerca de um terço das amostras apresentava propriedades anti-inflamatórias naturais, capazes de reduzir a dor e acelerar o processo de cicatrização.

Um caso notável relatado no estudo envolveu um chimpanzé macho com uma mão ferida. Separando-se do grupo, o chimpanzé procurou uma samambaia específica para comer. Após alguns dias de consumo dessa planta, o chimpanzé recuperou o uso normal da mão ferida. A equipe descobriu que a samambaia tinha propriedades anti-inflamatórias significativas, corroborando a eficácia do tratamento natural.

Comentando essas descobertas, a Dra. Freymann ressaltou a importância de estudar o comportamento dos chimpanzés e sua automedicação, sugerindo que isso poderia abrir portas para o desenvolvimento de novos medicamentos humanos. “O comportamento dos chimpanzés em relação à automedicação é um campo promissor de pesquisa”, disse ela. “Para aproveitar essas descobertas, é crucial que priorizem a preservação das florestas tropicais, que são verdadeiras farmácias naturais, e dos primatas que as habitam.”

Agora, você pode se perguntar se eu, pessoalmente, experimentaria a medicação do guérisseur para uma dor de barriga. Bem, eu adquiri uma garrafa do remédio tradicional, que ainda guardo até hoje. A mistura de folhas, casca e outros componentes misteriosos em um líquido marrom, armazenado em uma garrafa de plástico velha, ainda está lá. Às vezes, quando meus filhos ficam doentes com uma enfermidade inexplicável e precisam faltar à escola, eu abro a garrafa e deixo o odor penetrante encher o ambiente. E, surpreendentemente, assisto ao milagre da recuperação enquanto meus filhos, subitamente recuperados, correm para a escola, murmurando algo sobre se sentirem tão certos quanto a chuva.

Este relato não apenas destaca a complexidade e a sofisticação dos tratamentos naturais usados por chimpanzés e curandeiros tradicionais, mas também ilustra a necessidade urgente de explorarmos e preservarmos o conhecimento tradicional e a biodiversidade das florestas tropicais. A interseção entre ciência moderna e práticas tradicionais pode, de fato, revelar soluções valiosas para desafios de saúde global e oferecer uma perspectiva renovada sobre a importância da conservação ambiental.

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