Pular para o conteúdo

Geo Síntese

Geo Síntese

Início » China: Xi Jinping e a Ascensão do Autoritarismo Global

China: Xi Jinping e a Ascensão do Autoritarismo Global

  • por

Xi Jinping, atual líder do partido comunista, é responsável pela mais dura e brutal repressão das últimas décadas, sendo considerado o líder mais poderoso desde Mao Tse Tung, chamando a atenção com os ataques as escassas liberdades de Hong Kong, os controversos “campos de concentração” em Xinjiang e grandes projetos como a nova Rota da Seda.

Com sua liderança e em meio a pandemia do coronavirus, a China pretende preencher o vácuo deixado na hegemonia global ocupado até então pelos EUA, realizando vultuosos investimentos em diversos países, superando inclusive a quantia investida na Europa com o Plano Marshall pelos Estados Unidos.

A legitimidade do partido depende em grande parte de uma economia em crescimento, que foi abalada pela pandemia. Apesar disso, o grande poder de Xi Jinping no controle da China e na repressão de manifestações afasta qualquer receio de revolta devido a interrupção no crescimento econômico causado pelo coronavirus. 

O que mais assusta a liderança do partido comunista, são os movimentos separatistas em suas províncias e regiões autônomas, que lutam por liberdade e independência do controle de Pequim.

Portanto, para levar adiante este projeto hegemônico, é preciso conter as revoltas em seu próprio território, como é o caso de Hong Kong, que possui uma liberdade limitada sob a política “um país, dois sistemas”, e que estão sendo severamente desafiadas, com a nova lei de segurança nacional aprovada.

Esta lei considera como terroristas aqueles que lutam pela independência e prevê até mesmo prisão perpétua, com a fiscalização dos serviços de segurança da China até então inexistentes desde a devolução da de Hong Kong a China pelos britânicos.

Além de Hong Kong, há tensões no Tibete, Taiwan e também na província de Xinjiang. E é nesta última, que o terrorismo, o principal inimigo das potências na nova ordem mundial, serve como justificativa para as atrocidades cometidas.

A província de Xinjiang

Em Xinjiang, localizado a noroeste da China, vivem 13 milhões de muçulmanos, em sua maioria, da etnia uigur. A região é considerada estratégica para alguns dos projetos da nova Rota da Seda, a Belt and Road Initiative (Iniciativa do Cinturão e Rota), na qual a China esta investindo trilhões em infraestruturas para se conectar com a Europa, Oriente Médio, África e outras regiões da Ásia, seja por vias terrestres ou marítimas.

Essa região passou a ser alvo de uma intensa migração de chineses da etnia han, que compõem a maior parte da China. A medida é uma versão chinesa da política do liquidificador soviética, quando Stalin estimulou uma migração de russos para diversas repúblicas que faziam parte da União Soviética, a fim de evitar separatismos étnicos.

Essa migração em massa, desagradou os povos muçulmanos da região, que passaram a lutar pelo separatismo da província. Essa luta, serviu como o pretexto que o partido comunista precisava para intervir na região, adotando medidas severas de repressão, acusando os muçulmanos da região (que já sofrem preconceito em várias partes do mundo) de terroristas.

Para piorar a situação, os muçulmanos de Xinjiang são controlados por um moderno sistema de vigilância que daria inveja a George Orwell no seu livro 1984, com tecnologias de reconhecimento facial, checkpoints e aplicativos de posse das autoridades para inserção de dados. Esse sistema inclusive já atraem mercados de governos que desejam impor um controle rigoroso a população, colocando em riscos democracias no mundo todo ou aumentando ainda mais o poder de governos ditatoriais.

Com a ajuda desse sistema, são realizadas detenções sem acusação formal. Os orfãos dos detidos são submetidos a uma doutrinação rigorosa, porém, mesmo nas escolas regulares os alunos são submetidos a formação ideológica.

Agentes se infiltram nas casas para monitorar manifestações religiosas, contatos com membros no exterior, além de averiguar a infidelidade ao partido e uso da língua mandarim, obrigatória na região. Além disso, há uma lista de restrições, incluindo a proibição do uso de nomes árabes.

Essas medidas são aplaudidas por mais de 40 países como a Rússia, Síria, Coréia do Norte, Mianmar, Bielorrússia, Venezuela e Arábia Saudita, que consideram como terroristas povos que lutam por sua liberdade. São esses mesmos países que possuem em seus territórios movimentos separatistas ou governos autocráticos. 

Os muçulmanos em Xinjiang encontram-se isolados até mesmo pela Organização para Cooperação Islâmica, que tem como principal coordenador o Paquistão, o mais beneficiado os investimentos da nova Rota da Seda onde está sendo construído um porto chinês. Um detalhe importante é que este projeto é elogiado pelo Secretário Geral da ONU, Antonio Guterres, que também elogia os feitos econômicos conquistados pela China, desconsiderando o descumprimento dos direitos humanos.

Os campos de concentração chineses

A China é acusada de privar a liberdade dos muçulmanos de Xinjiang em locais semelhantes a campos de concentração, onde eles carinhosamente apelidaram de centro de treinamento vocacional, alegando apoio a criação de empregos e o combate ao extremismo religioso. Nestes locais, ocorre uma formação ideológica, com substituição da fé e da identidade cultural.

A visita da imprensa no local é controlada e sofre uma grande interferência das autoridades chinesas, que mostram apenas aquilo que querem que o mundo acredite. Quando os detentos são entrevistados ou questionados de sua situação, há a negação pelo temor por sua própria vida e pela vida ou liberdade de seus familiares.

Entre 2017 e 2019, 80.000 uigures que se encontravam nestes centros foram transferidos para fábricas de trabalho forçado que abastecem grandes marcas como: Apple, Sony, Samsung, Microsoft, Nokia, do setor eletrônico; Adidas, Lacoste, Gap, Nike, Puma, Uniqlo, H&M, do setor têxtil; e montadoras como BMW, Volkswagen, Mercedes-Benz, Land Rover e Jaguar.

A influência chinesa no mundo abafa as críticas sobre o desrespeito aos direitos humanos praticados pelo regime, e como membro do conselho de segurança na ONU, a China impede ações para ajudar populações que enfrentam situações de perseguição na Síria, Venezuela, Mianmar e Arábia Saudita, ganhando assim, apoio desses países. Além disso, a censura no país controlando os meios de comunicação, impede a população de tomar conhecimento das críticas feitas no exterior.

Os EUA impuseram sanções a China em 2019 por violações dos direitos humanos em Xinjiang, porém, Trump também cometeu essas violações na fronteira México-EUA além de ter um forte discurso de apoio a líderes que também descumprem tais direitos. Essa falta de moral acaba por enfraquecer as críticas a China.

O poder econômico chinês que representa 16% da economia mundial, faz com que o país não seja um alvo fácil de sanções. Além disso, a China tem poder suficiente para impedir o acesso ao seu mercado por empresas e Estados que se opõem ao regime.

Apesar de ser o país que mais tirou pessoas da miséria (mais de 700 milhões de pessoas), a censura esconde a crescente desigualdade de renda e a dura repressão sobre as províncias e regiões autônomas. Resta saber se o projeto de hegemonia mundial chinês que esmaga os direitos humanos no mundo e em seu território, com apoio internacional, irá nos próximos anos enfrentar pressões de outros países ou mesmo da ONU.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *