O recente relatório da ONU sobre espécies invasoras é um chamado urgente à ação para enfrentar uma das maiores ameaças à biodiversidade global. De acordo com a Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), o número de espécies invasoras está aumentando a taxas “sem precedentes”, com mais de 3500 dessas espécies causando danos significativos em todo o mundo. Esse crescimento acelerado não apenas afeta o meio ambiente, mas também tem implicações sérias para a saúde pública e a economia global.
Espécies invasoras são organismos que, ao serem introduzidos em novos ambientes, se estabelecem e proliferam de maneira descontrolada, prejudicando as espécies nativas e os ecossistemas locais. Um exemplo clássico é o esquilo cinza na Inglaterra. Introduzido no final do século XIX como uma espécie ornamental, o esquilo cinza, originário da América do Norte, acabou substituindo o esquilo vermelho nativo em grande parte do Reino Unido. Sua presença descontrolada exemplifica como a introdução de espécies exóticas pode ter consequências ecológicas drásticas.
O impacto das espécies invasoras é imenso. Estima-se que cerca de 37.000 espécies exóticas tenham sido introduzidas por humanos em ambientes não nativos globalmente. Essas espécies têm desempenhado um papel significativo em aproximadamente 60% das extinções de plantas e animais, tornando-se a segunda maior causa de extinções em todo o planeta. A ameaça é global, mas o relatório aponta a América como uma das regiões mais afetadas, com florestas e áreas cultivadas sendo os habitats mais vulneráveis.
É importante destacar que, embora nem todas as espécies exóticas se tornem invasoras, a maioria dos impactos documentados dessas espécies em espécies nativas é negativa. De acordo com a professora Helen Roy, co-presidente da Avaliação da IPBES, “as espécies exóticas invasoras são uma grande ameaça à biodiversidade e podem causar danos irreversíveis à natureza, incluindo extinções de espécies locais e globais”. Essa observação é corroborada pelo fato de que as espécies invasoras frequentemente competem com as espécies nativas por recursos, alteram os habitats e podem introduzir novas doenças.
Além de seus impactos ecológicos, as espécies invasoras representam uma ameaça significativa à saúde humana e à economia. Por exemplo, o mosquito tigre, uma espécie invasora, tem contribuído para a propagação de doenças como a dengue no sul da Europa e foi recentemente registrado no sul da Inglaterra. A invasão de jacintos aquáticos no Lago Victoria, na África Oriental, demonstra outro aspecto preocupante: a competição com peixes nativos, o que resultou na diminuição drástica dos estoques pesqueiros locais.
Economicamente, o custo global das espécies exóticas invasoras ultrapassou US$429 bilhões anuais desde 2019, e os custos têm quadruplicado a cada década desde 1970. Esses custos refletem o impacto financeiro significativo associado ao controle das espécies invasoras, à perda de produtividade agrícola e ao impacto sobre a pesca e o turismo.
A escalada das espécies invasoras é um problema que não pode ser ignorado. Como observa o Prof. Anibal Pauchard, co-presidente da Avaliação, “seria um erro extremamente caro considerar as invasões biológicas apenas como problema de outra pessoa”. As consequências das espécies invasoras são profundas e afetam todas as regiões do planeta, incluindo locais remotos como a Antártica. O desafio é global, mas as soluções são locais e exigem ação coordenada em nível comunitário e internacional.
Para enfrentar a crescente ameaça das espécies invasoras, é essencial adotar uma abordagem integrada que envolva a prevenção da introdução de novas espécies, o monitoramento e a gestão de espécies já estabelecidas, e a promoção de políticas públicas eficazes. A conscientização e a educação sobre os riscos associados às espécies invasoras também são cruciais para mobilizar a sociedade em torno dessa causa urgente.
Em suma, o relatório da ONU destaca a necessidade de ação imediata para mitigar os impactos das espécies invasoras. É um lembrete de que a conservação da biodiversidade e a proteção dos ecossistemas exigem um esforço contínuo e coordenado para evitar que a situação se agrave ainda mais.