Diante da crescente urgência climática, surge a preocupação: será realmente viável limitar o aquecimento global a 1,5°C? Em uma análise anterior, mencionei a complexidade da inércia climática, que agora se mostra uma barreira significativa para alcançar essa meta ambiciosa. Os gases de efeito estufa, uma vez emitidos, não afetam imediatamente o clima devido à resistência natural do sistema climático. Mesmo cessando as emissões hoje, as temperaturas continuariam a subir por décadas devido à inércia térmica dos oceanos e à longa vida dos gases na atmosfera, como o CO2, que pode persistir por séculos.
Além disso, o calor absorvido pelos oceanos não apenas afeta o clima de maneira contínua, mas também contribui para a expansão térmica das águas, elevando o nível do mar por décadas, independentemente de uma estabilização global da temperatura. O derretimento das calotas polares e das geleiras, ampliado pelo feedback do albedo reduzido devido à diminuição da cobertura de gelo, agrava ainda mais o aquecimento. A modificação dos padrões de precipitação e a ocorrência mais frequente de secas e incêndios florestais estão comprometendo a capacidade das florestas de atuarem como sumidouros de carbono eficazes, o que pode levar a uma liberação adicional de CO2 para a atmosfera.
James Hansen, renomado climatologista, ressalta que o aquecimento global está projetado para exceder 1,5°C já na década de 2020 e 2°C antes de 2050, devido não apenas à inércia climática, mas também às mudanças recentes na concentração de aerossóis de sulfato na atmosfera. Esses aerossóis, que anteriormente exerciam um efeito de resfriamento, têm diminuído com regulamentações mais rígidas sobre emissões, exacerbando o aquecimento observado nos últimos anos.
Além dos desafios físicos impostos pela inércia climática, há também um atraso significativo na implementação de políticas eficazes de mitigação de emissões. Transformar sistemas energéticos, processos industriais e comportamentos sociais requer um esforço coordenado globalmente, algo que tem sido adiado por décadas de inação e resistência política.
Em suma, a combinação de inércia climática e inércia social torna a missão de limitar o aquecimento global a 1,5°C uma tarefa extremamente difícil, exigindo ação imediata e coordenada em nível global para mitigar os impactos climáticos devastadores que já estão em curso.