Florestas temperadas e tropicais ajudam a mitigar mudanças climáticas. Descubra como os estudos revelam seu papel crucial no equilíbrio climático.
“Os carvalhos são as rainhas de seu domínio”, afirma Rob MacKenzie, cientista atmosférico e diretor do Instituto de Pesquisa Florestal da Universidade de Birmingham. Ele gesticula para um carvalho majestoso, que se eleva imponente sobre nós em uma floresta de Staffordshire, Inglaterra. Este carvalho, testemunha silenciosa de séculos de história, permanece enraizado no mesmo local, enquanto o mundo ao seu redor se transforma.
É início de inverno. MacKenzie caminha com firmeza pelo terreno coberto de neve, que range sob seus passos. O sol baixo projeta sombras longas, e o canto esparso dos pássaros corajosos ressoa entre os troncos nus. Mas esta não é uma floresta comum: aqui, o futuro da Terra está sendo simulado.
Uma Floresta do Futuro
Sob o solo desta floresta, raízes se misturam a intrincadas redes de tubos e fios. Acima, árvores de carvalho, bétula e sicômoro convivem com estruturas metálicas que sustentam tubos que chegam até as copas. Esta floresta recebeu um “upgrade” tecnológico: o experimento FACE (Enriquecimento de CO2 ao Ar Livre) bombeia dióxido de carbono para simular os níveis atmosféricos projetados para 2050.
Desde 2016, MacKenzie e sua equipe monitoram como essas árvores maduras respondem a concentrações elevadas de CO2. Descobertas surpreendentes indicam que florestas temperadas, como esta, podem desempenhar um papel ainda mais significativo no equilíbrio climático global do que se pensava.
O Papel das Árvores no Clima
Florestas maduras atuam como “sumidouros de carbono”, capturando CO2 da atmosfera e armazenando-o em troncos, folhas e raízes. Este processo é essencial para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, já que o CO2 contribui para o efeito estufa e o aquecimento global.
Experimentos como o de Staffordshire sugerem que árvores expostas a níveis elevados de CO2 continuam absorvendo carbono à medida que envelhecem. Mais impressionante ainda, essas florestas armazenam o carbono por períodos mais longos, aumentando a produção de madeira em até 10%. Este crescimento ampliado permite que as árvores acumulem carbono por décadas, retardando sua liberação de volta à atmosfera.
Além disso, a descoberta de que micróbios presentes nas copas das árvores consomem metano – outro gás de efeito estufa – adiciona uma dimensão inédita à importância das florestas. Esses micróbios ajudam a reduzir as concentrações de metano na atmosfera, mitigando ainda mais o aquecimento global.
Um Sistema em Equilíbrio Precário
O delicado equilíbrio climático da Terra depende de sumidouros naturais como florestas, oceanos e solos. Atualmente, esses sistemas absorvem cerca de 50% das emissões de carbono geradas por atividades humanas. Contudo, fatores como desmatamento, secas extremas e incêndios florestais estão colocando essa capacidade em risco.
Os cientistas alertam que sumidouros naturais podem se transformar em fontes de carbono, liberando mais CO2 do que conseguem absorver. Na Amazônia, por exemplo, o desmatamento e o aquecimento global ameaçam o ecossistema, aproximando-o de um “ponto de inflexão” irreversível.
O Experimento FACE na Amazônia
Inspirados pelos resultados em Staffordshire, pesquisadores iniciaram um experimento similar na floresta amazônica, perto de Manaus, Brasil. Este projeto, lançado em 2023, simula níveis futuros de CO2 para estudar os impactos no maior ecossistema tropical do mundo.
A floresta amazônica é um gigante climático: armazena o equivalente a 20 anos de emissões globais de CO2 e abriga mais de 10% da biodiversidade terrestre. No entanto, os primeiros dados indicam que o aumento de CO2 pode favorecer espécies de crescimento rápido e madeira menos densa, menos resistentes à seca e com menor capacidade de armazenamento de carbono.
Os pesquisadores também estão investigando como mudanças climáticas afetam a interação entre o solo e as raízes, bem como a biodiversidade essencial para o equilíbrio do ecossistema.
Limitações e Soluções
Embora florestas maduras desempenhem um papel crucial na regulação climática, elas não são uma solução isolada. Como destaca MacKenzie, não há reflorestamento suficiente para compensar as emissões contínuas de combustíveis fósseis. Ainda assim, proteger e restaurar florestas existentes é uma estratégia indispensável na luta contra a crise climática.
Governos, organizações e cidadãos precisam agir em conjunto para preservar esses ecossistemas. Reduzir o desmatamento, incentivar práticas agrícolas sustentáveis e adotar políticas de redução de emissões são passos cruciais.
O Futuro das Florestas
As descobertas de Staffordshire e outros experimentos globais reafirmam a importância das florestas para o futuro do planeta. Além de capturar carbono, elas fornecem serviços ecológicos vitais, como produção de oxigênio, regulação do ciclo da água e abrigo para inúmeras espécies.
Enquanto caminhamos em direção a um futuro incerto, preservar as florestas é mais do que uma responsabilidade ambiental; é uma questão de sobrevivência. Como conclui MacKenzie: “As florestas não são uma bala de prata, mas são um pilar essencial para um planeta habitável.”