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Geo Síntese

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Impacto dos Terremotos ao Redor do Mundo: Uma Análise Abrangente

Em 11 de março de 2011, a costa nordeste da ilha de Honshu, no Japão, foi sacudida por um terremoto de magnitude 9,1, um dos maiores já registrados. Este evento devastador não apenas marcou a quarta maior magnitude de terremoto da história, mas também se tornou o mais caro, com danos estimados em cerca de US$ 360 bilhões. Mais de 330.000 edifícios foram afetados, e o terremoto desencadeou o desastre nuclear de Fukushima. Embora eventos dessa magnitude, como os ocorridos no Japão, Indonésia e Califórnia, frequentemente ganhem destaque na mídia, especialistas em sismologia afirmam que esses países não são necessariamente os mais afetados por terremotos.

Em vez disso, pesquisadores como Max Wyss, Michel Speiser e Stavros Tolis, da International Centre for Earth Simulation Foundation, argumentam que a gravidade do impacto de um terremoto pode ser mais precisamente avaliada pela proporção de mortes em relação ao tamanho da população de um país. Eles propõem uma métrica inovadora chamada Carga de Fatalidade por Terremotos (EQFL), que mede o sofrimento populacional em países sísmicamente ativos. Segundo Wyss, “Queríamos entender o impacto real dessas perdas para um país. Quando analisamos quantitativamente, a ordem dos países mais preocupantes muda drasticamente.”

Utilizando dados de mortalidade e população de 35 nações que enfrentam pelo menos 10.000 mortes relacionadas a terremotos nos últimos 500 anos, os pesquisadores determinaram a EQFL de cada país. Esta métrica reflete o número de mortes por terremoto por ano, ajustado para cada milhão de habitantes. Esses países são responsáveis por 97% de todas as mortes por terremotos registradas entre 1500 e março de 2022, excluindo mortes por tsunamis associados a terremotos e focando em impactos diretos como o colapso de edifícios e outras infraestruturas.

Países Mais Impactados por Terremotos

Equador: 450 mortes por milhão de habitantes

O Equador, situado na Placa Sul-Americana, é um hotspot sísmico devido à colisão constante com a Placa de Nazca. Essa interação tectônica provoca frequentes terremotos. Os terremotos intraplaca, que ocorrem dentro da própria Placa Sul-Americana, são particularmente destrutivos. O terremoto de Ambato, em 1949, resultou em aproximadamente 5.050 mortes. Além disso, eventos de mega-empurrão, que são terremotos poderosos na zona de subducção, representam uma séria ameaça. Por exemplo, o terremoto Equador-Colômbia de 1906 causou um tsunami devastador. Mais recentemente, o terremoto de abril de 2024 e o tremor de magnitude 5,0 em maio deste ano destacam a vulnerabilidade contínua do país a eventos sísmicos significativos.

Líbano: 380 mortes por milhão de habitantes

O Líbano, localizado na fronteira das placas tectônicas árabe e africana, possui uma longa história de terremotos. Registros históricos datam de 31 a.C., 363 d.C., 749 d.C. e 1033 d.C. O terremoto mais devastador da história recente ocorreu em 1759, com uma magnitude estimada em 7. Este evento destruiu Beirute e áreas circundantes, causando aproximadamente 40.000 mortes. O terremoto de 1956, com magnitude 6,0, também causou danos significativos, resultando em 136 mortes e a destruição de milhares de casas. Mesmo tremores menores, como o terremoto de magnitude 5,2 em 2008, causaram ferimentos e pânico devido à vulnerabilidade das construções.

Turcomenistão: 220 mortes por milhão de habitantes

Embora o Turcomenistão não seja tão sismicamente ativo quanto outras regiões, ele ainda enfrenta pequenos tremores frequentes. A infraestrutura precária do país contribui para sua alta vulnerabilidade. Um terremoto de magnitude 7,8 em 1948, próximo a Ashgabat, resultou em danos extensos e milhares de vítimas. Embora grandes terremotos sejam raros, terremotos menores, devido à construção inadequada, ainda podem causar danos significativos. Tremores originários de países vizinhos, como o terremoto do Irã Ocidental de 2017, também afetam o Turcomenistão.

Haiti: 220 mortes por milhão de habitantes

A história sísmica do Haiti é marcada por sua localização na fronteira das placas tectônicas do Caribe e da América do Norte. A prevalência de estruturas mal construídas exacerbou os danos causados por terremotos. Eventos históricos incluem os terremotos de 1751, 1770 e 1842, que devastaram Porto Príncipe e Cap-Haïtien. O terremoto de 2010, com magnitude 7,0, causou cerca de 300.000 mortes, enquanto o terremoto de 2021, com magnitude 7,2, resultou em mais de 2.200 mortes.

Prevenção e Resiliência

Apesar das devastadoras consequências dos terremotos, o número de vítimas tem diminuído ao longo do tempo, em grande parte devido a melhorias em edifícios resistentes a terremotos, planos de evacuação e operações de resgate. Além disso, a migração rural para áreas urbanas pode desempenhar um papel significativo. Em muitos países, as vítimas de terremotos frequentemente ocorrem em áreas rurais remotas, onde a infraestrutura é menos resiliente e a assistência é mais difícil de alcançar. A Itália, por exemplo, apresenta uma redução menor no número de vítimas, possivelmente devido à preservação e renovação de edifícios antigos.

Portugal: 110 mortes por milhão de habitantes

O Grande Terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755, é o mais devastador da história portuguesa. Estimado em uma magnitude de 8,5-9,0, desencadeou um tsunami que devastou Lisboa e arredores, resultando em cerca de 60.000 mortes. No século XX, Portugal enfrentou outros terremotos significativos, incluindo o terremoto de 1941 nos Açores, que causou danos substanciais na ilha de São Jorge.

Irã: 110 mortes por milhão de habitantes

O Irã, situado em uma região de intensa atividade tectônica, experimenta terremotos frequentes, especialmente ao longo da linha de falha das Montanhas Zagros. O terremoto de Damghan, em 856 d.C., com uma magnitude estimada de 8,0, é um dos mais mortais registrados. O terremoto de Bam, em 2003, com magnitude 6,6, ceifou mais de 26.000 vidas. O terremoto de Kermanshah, em 2017, também causou danos significativos, destacando a vulnerabilidade contínua do país a eventos sísmicos.

Turquia: 55 mortes por milhão de habitantes

Localizada na Placa da Anatólia, a Turquia é altamente suscetível a terremotos devido à sua posição tectônica. O terremoto de Erzincan, em 1939, com magnitude 7,8, causou devastação e mais de 30.000 mortes. Outros eventos significativos incluem o terremoto de İzmit, em 1999, e o terremoto de Van, em 2011, ambos com impacto devastador.

Países Pequenos, Grandes Perdas

Embora países como China, Irã e Turquia tenham sofrido o maior número total de vítimas, os pesquisadores Wyss, Speiser e Tolis revelam que países menores, com populações reduzidas, como Equador, Líbano e Haiti, enfrentam um fardo relativo muito maior. A alta carga de mortalidade proporcional em países pequenos é indicativa do impacto severo que os terremotos têm em comunidades menos preparadas.

Itália: 33 mortes por milhão de habitantes

A Itália, situada na zona de colisão entre as placas africana e da Eurásia, é propensa a terremotos, especialmente nas regiões do sul. O terremoto de Messina, em 1908, com magnitude 7,1, resultou em aproximadamente 120.000 mortes. A combinação de atividade sísmica e estruturas antigas contribui para o impacto contínuo de terremotos na Itália.

China: 19 mortes por milhão de habitantes

A China possui registros antigos de terremotos, com eventos significativos como o terremoto de Shaanxi, em 1556, e o terremoto de Tangshan, em 1976. Apesar de um número geral menor de terremotos menores, o país ainda enfrenta desafios relacionados a grandes eventos sísmicos, destacando a complexidade da avaliação do impacto sísmico.

Em conclusão, a análise da Carga de Fatalidade por Terremotos (EQFL) proporciona uma perspectiva valiosa sobre o verdadeiro impacto dos terremotos nas populações ao redor do mundo. Embora grandes eventos sísmicos em países como Japão, Indonésia e Califórnia sejam amplamente divulgados, a verdadeira gravidade do problema pode ser mais adequadamente medida pela proporção de mortes em relação ao tamanho da população. Este entendimento pode ajudar a direcionar esforços de mitigação e resposta para onde eles são mais necessários, contribuindo para uma maior resiliência global diante dos desafios sísmicos.

 


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