Kemi Badenoch é a primeira mulher negra a liderar um grande partido no Reino Unido, com uma visão crítica à política de identidade e promessas de reformulação.
Kemi Badenoch, figura de destaque na política britânica, é a primeira mulher negra a assumir a liderança de um grande partido político no Reino Unido. Sua trajetória política, marcada por opiniões conservadoras firmes e posicionamentos “anti-woke”, cativou parte significativa do eleitorado conservador. Comparada por muitos à sua inspiração política, Margaret Thatcher, Badenoch também divide opiniões dentro e fora do Partido Conservador.
Nascida em Wimbledon em 1980, Badenoch cresceu na Nigéria, onde viveu até os 16 anos, quando retornou ao Reino Unido para fugir da instabilidade política e econômica que assolava seu país de origem. Filha de um médico e uma professora de fisiologia, ela construiu uma carreira diversa e resiliente. Enquanto estudava engenharia da computação na Universidade de Sussex, Badenoch trabalhava no McDonald ‘s para se manter, posteriormente ingressando na área financeira. Eventualmente, tornou-se diretora digital da revista The Spectator, veículo influente dentro do conservadorismo britânico.
Essa vivência trouxe a Badenoch uma visão de mundo que confronta a “cultura de esquerda” que ela encontrou na universidade e que, segundo ela, representa uma elite metropolitana desconectada das questões do país. Seu envolvimento com o Partido Conservador começou em 2005, e, apesar de fracassos iniciais, ela se elegeu em 2017 para o Parlamento, onde rapidamente ganhou espaço devido à sua postura franca e combativa.
Durante o governo de Boris Johnson, Badenoch atuou em cargos ministeriais de menor relevância até ser alçada à liderança do Departamento de Comércio Internacional. Sua abordagem direta e provocadora a trouxe à frente de debates sobre igualdade racial e de gênero, adotando posições que desafiam o discurso predominante sobre racismo e diversidade no Reino Unido. Ela alega que enfrentou preconceito apenas de pessoas “de esquerda” e questiona o que considera uma visão excessivamente crítica da sociedade britânica, enfatizando os avanços sociais e econômicos do país.
Na liderança do Partido Conservador, Badenoch promete reconstruir o conservadorismo britânico e reverter o que, segundo ela, é uma tendência de governar à esquerda. Esse ideal se reflete em sua defesa por uma revisão nas políticas de Estado, buscando restringir o intervencionismo estatal e enfatizar a liberdade individual sobre regulações governamentais excessivas. Sua campanha de liderança foi pautada, sobretudo, pela promessa de transformar a mentalidade do Estado britânico, sem se apoiar em políticas detalhadas, mas sim em uma reforma estrutural na abordagem governamental.
Uma Liderança Polêmica e Confrontos Com a Cultura Progressista
A jornada de Badenoch no Partido Conservador é repleta de embates. Sua postura crítica em relação ao movimento LGBT+ e sua oposição a políticas de identidade geraram fortes reações, especialmente ao vetar uma legislação de reconhecimento de gênero proposta na Escócia. Badenoch argumenta que as políticas de identidade não devem se sobrepor às liberdades individuais e critica as iniciativas que, segundo ela, restringem a liberdade de expressão em prol de um viés ideológico.
Kemi Badenoch se autodefine como feminista crítica de gênero, uma posição que a coloca em constante confronto com movimentos progressistas, principalmente quando argumenta que algumas culturas impõem papéis restritivos às mulheres, limitando sua participação no mercado de trabalho. Badenoch é frequentemente descrita como uma “guerreira cultural” por sua disposição em criticar o “wokeismo” e a política identitária, posições que ela defende como necessárias para reafirmar os valores conservadores e libertar o país das regulamentações que ela julga excessivas.
Apesar das controvérsias, Badenoch defende que seu objetivo não é criar divisões, mas sim restaurar princípios que ela considera essenciais ao Reino Unido. Para seus apoiadores, essa sinceridade é uma qualidade rara na política, uma vez que Badenoch estaria mais preocupada em defender suas convicções do que em fazer concessões para ganhar apoio. Por outro lado, críticos veem sua franqueza como sinal de inflexibilidade, o que poderia tornar sua liderança suscetível a atritos constantes.
Desafios à Frente: Restaurar a Base Conservadora
Com um cenário político cada vez mais polarizado e um Partido Conservador enfrentando queda de popularidade, Badenoch tem a árdua tarefa de unificar as alas do partido e recuperar a confiança do eleitorado. Para ela, o conservadorismo britânico precisa “voltar às suas raízes” e adotar uma nova abordagem política que confronte a ideologia progressista e o aumento do controle estatal. Segundo Badenoch, o governo conservador precisa retomar o compromisso com o crescimento econômico e reduzir a dependência do Estado.
Ela acredita que o país deve priorizar políticas que incentivem a economia de mercado, colocando freios nas regulamentações que considera sufocantes para o setor empresarial. Seu ceticismo em relação ao ativismo político ligado a identidades é parte fundamental de sua agenda, na qual a autossuficiência e a meritocracia devem se sobrepor às políticas de compensação baseadas em características raciais ou de gênero.
Badenoch promete ainda reverter o que considera uma “mentalidade socialista” infiltrada nas agências governamentais. Ela defende que o Reino Unido deveria eliminar práticas que incentivam o intervencionismo e o paternalismo estatal. Esse tipo de liderança visa, segundo Badenoch, preparar o Partido Conservador para se adaptar às novas realidades e às mudanças sociais, preservando os valores que considera fundamentais para a sobrevivência do conservadorismo.
Kemi Badenoch: Conservadorismo em Crise e a Busca por Relevância
Ao longo dos últimos anos, Badenoch tem alertado sobre o que considera uma “crise do conservadorismo”. Ela critica o que chama de “ideologia progressista” e as implicações do aumento do intervencionismo estatal, que, na sua opinião, tornam o Reino Unido menos livre e inovador. Essa visão reflete sua crença de que o país precisa urgentemente de uma redefinição, voltando-se para políticas baseadas em responsabilidade individual e empreendedorismo.
Badenoch argumenta que o conservadorismo deve oferecer uma alternativa às políticas trabalhistas, restaurando a confiança nas capacidades individuais, incentivando o livre mercado e promovendo a responsabilidade fiscal. Ao mesmo tempo, sua posição sobre temas de igualdade e políticas identitárias sugere que ela vê o conservadorismo como um movimento que desafia não só a esquerda política, mas também aspectos culturais que, em sua visão, ameaçam a liberdade e a autenticidade da sociedade britânica.
A ascensão de Kemi Badenoch à liderança do Partido Conservador marca uma nova era para o conservadorismo britânico. Em um momento em que o partido busca restaurar sua relevância, a liderança de Badenoch pode oferecer uma abordagem ousada e tradicional, mas que enfrenta desafios consideráveis. Como ela mesma afirma, sua missão não é conquistar todos, mas sim redefinir o papel do conservadorismo para os novos tempos.