Israel e Palestina esperam diferentes resultados com o retorno de Trump à presidência dos EUA, enquanto Netanyahu busca manter sua coalizão.
O cenário político no Oriente Médio, em especial nas relações entre Israel, Palestina e os Estados Unidos, tem sido amplamente influenciado pelas ações do ex-presidente Donald Trump. Durante seu primeiro mandato, Trump adotou uma postura decisiva, criando reviravoltas significativas nas políticas de segurança e diplomacia da região. Seu retorno à Casa Branca tem gerado expectativas e preocupações, tanto em Israel quanto entre os palestinos, com um cenário de incertezas e possibilidades.
O bar Deja Bu, localizado em frente à embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, é o local onde israelenses frequentemente se reúnem para discutir os rumos da política externa americana. E como o nome sugere, muitos parecem esperar uma “segunda rodada” de Donald Trump na presidência, o que implicaria na continuidade de suas políticas de linha dura no Oriente Médio.
Rafael Shore, um rabino residente na Cidade Velha de Jerusalém, é um exemplo do otimismo que permeia uma parte significativa da população israelense em relação ao retorno de Trump. “Ele entende a língua do Oriente Médio”, afirma Shore, destacando a postura do ex-presidente em relação ao Irã e ao regime de Assad na Síria, além de seu compromisso com a segurança de Israel.
O ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, sempre próximo dos Estados Unidos, foi um dos primeiros a parabenizar Trump pela vitória nas eleições. Sua declaração no Twitter – “Parabéns pelo maior retorno da história!” – reflete a proximidade entre os dois e o apoio que Netanyahu demonstrou a Trump, especialmente em questões que envolvem a segurança de Israel e o posicionamento geopolítico da região.
Trump tornou-se popular em Israel por suas decisões polêmicas, como a retirada do acordo nuclear com o Irã, que Israel considerava um grande risco à segurança regional, e o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel. Essas ações foram vistas como um fortalecimento das relações bilaterais e uma mudança nas políticas de consenso internacional que vinham dominando a diplomacia dos EUA desde a década de 1990. O reconhecimento de Jerusalém, em particular, foi um marco que alterou de forma significativa as dinâmicas entre os EUA e o mundo árabe, criando um racha nas relações históricas entre os Estados Unidos e os países árabes moderados.
No entanto, como aponta Michael Oren, ex-embaixador de Israel nos EUA, o retorno de Trump à presidência pode gerar não apenas continuidades, mas também desafios. Oren lembra que Trump não tem afinidade com guerras prolongadas e que, durante seu primeiro mandato, pediu para Israel buscar uma resolução rápida para a guerra em Gaza. Além disso, Trump também se opôs aos projetos de expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e, em alguns momentos, foi contra a ideia de anexação de territórios palestinos por parte de Israel. Essas questões podem criar atritos com o governo de Netanyahu, especialmente com as pressões internas de partidos de extrema direita da coalizão israelense, que defendem políticas mais rígidas.
A relação entre Netanyahu e Trump poderá ser mais tensa, conforme alerta Oren. “Se Trump assumir e disser: ‘Você tem uma semana para terminar essa guerra’, Netanyahu terá que respeitar isso.” Em Gaza, o impacto da guerra contra o Hamas se reflete no sofrimento diário da população palestina. Ahmed, um palestino que perdeu sua família durante o conflito, expressa suas esperanças em relação a Trump: “Esperamos que ele possa ajudar e trazer a paz.” Para muitos em Gaza, a expectativa é de que a intervenção de Trump, com seu estilo direto e sem rodeios, possa acelerar o fim do conflito.
Por outro lado, entre os palestinos da Cisjordânia, há uma desconfiança generalizada em relação às políticas americanas. A Autoridade Palestina, liderada por Mahmoud Abbas, tem sido uma crítica constante das ações de Trump e do seu alinhamento com as demandas israelenses. Sabri Saidam, membro sênior da Fatah, principal facção da AP, destaca que “soluções medíocres que vêm às custas dos palestinos” não farão mais do que aumentar os confrontos na região.
Com o cenário de guerra ainda presente em Gaza e os desafios internos da Palestina, muitos palestinos aguardam por uma abordagem mais eficaz da parte dos Estados Unidos, que resolva a “causa raiz” do conflito, como descreve Saidam. Porém, o ceticismo sobre as intenções americanas persiste, com grande parte da população palestina percebendo qualquer administração dos EUA como tendenciosa em favor de Israel.
Em Israel, a opinião pública também está dividida quanto ao impacto de um possível retorno de Trump. Embora pesquisas mostrem que a maioria dos israelenses gostaria de vê-lo de volta à presidência, existem também vozes que alertam para o risco de sua imprevisibilidade. “Ele vai tornar a situação aqui mais incerta e insegura”, afirma uma israelense, que teme que Trump possa piorar ainda mais o cenário de conflito no Oriente Médio.
Michael Oren, por outro lado, acredita que, com uma cooperação eficaz, Israel poderia alcançar “tremendas conquistas” sob a presidência de Trump, incluindo, quem sabe, um acordo de paz com a Arábia Saudita e maior controle sobre a influência do Irã na região. Contudo, a realidade política de Netanyahu, que enfrenta pressões internas de sua coalizão, pode dificultar o alinhamento com as políticas de Trump, tornando os desafios ainda mais intensos.
É possível que, com o retorno de Trump, as relações entre Israel e os Estados Unidos ganhem novas dinâmicas, possivelmente mais tensas ou, ao contrário, mais decisivas, dependendo do contexto político e da resposta das partes envolvidas. Em última análise, o desempenho passado de Trump em seu primeiro mandato não garante que os resultados serão os mesmos em um segundo mandato, e as perspectivas para a paz no Oriente Médio permanecem incertas, com aliados e adversários aguardando ansiosamente o que o futuro reserva.