A imagem é impactante: todas as noites, cerca de 783 milhões de pessoas vão para a cama com fome enquanto, paradoxalmente, mais de um bilhão de refeições são desperdiçadas globalmente a cada dia. O Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos do PNUMA 2024, lançado recentemente, expõe não apenas a escala do problema, mas também suas consequências devastadoras para a economia global e o meio ambiente.
Segundo o relatório, aproximadamente 1,05 bilhão de toneladas de resíduos alimentares são geradas anualmente em todo o mundo, equivalente a 79 quilos por pessoa. Este desperdício não apenas contribui para a insegurança alimentar global, mas também intensifica as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade e a poluição ambiental.
Surpreendentemente, a maior parte do desperdício de alimentos provém de residências, totalizando 631 milhões de toneladas, representando até 60% do total desperdiçado. Os setores de alimentação e varejo também desempenham um papel significativo, responsáveis por 290 e 131 milhões de toneladas, respectivamente.
Embora se possa supor que o desperdício seja predominantemente um problema dos países de alta renda, dados revelam que as diferenças nos níveis médios de desperdício de alimentos entre países de alta renda, média-alta e média-baixa são mínimas, com médias de apenas sete quilos por pessoa ao ano.
O relatório destaca ainda disparidades entre áreas urbanas e rurais, observando que populações urbanas tendem a desperdiçar mais alimentos. Nas áreas rurais, os restos de comida frequentemente são reaproveitados para alimentar animais de estimação, gado ou compostagem.
Um fator climático também influencia significativamente os padrões de desperdício de alimentos, sendo que países mais quentes enfrentam desafios adicionais de armazenamento e transporte de alimentos devido a temperaturas elevadas, secas e eventos climáticos extremos.
Além dos impactos sociais e econômicos, o relatório ressalta os custos ambientais associados ao desperdício de alimentos. Estima-se que até 10% das emissões globais de gases de efeito estufa sejam atribuídas à perda e desperdício de alimentos, uma proporção alarmante que excede significativamente as emissões totais do setor de aviação.
Apesar das sombrias estatísticas, o relatório destaca iniciativas promissoras em todo o mundo, incluindo parcerias público-privadas que têm mostrado resultados positivos na redução do desperdício de alimentos e seus impactos ambientais. No Reino Unido, por exemplo, iniciativas resultaram em uma redução de 31% no desperdício de alimentos, indicando um caminho viável para a mitigação deste problema global.
O relatório da ONU não apenas alerta para a urgência de mudanças nas políticas de consumo e produção, mas também sublinha a necessidade de ações coletivas para enfrentar o desperdício de alimentos como parte integrante da luta contra as mudanças climáticas e a insegurança alimentar global.