Geo Síntese

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Seca, Conflito e Política: O Medo da Fome na Etiópia

Recentemente, as agências de ajuda humanitária começaram a soar alarmes sobre uma possível crise alimentar na Etiópia, que pode se assemelhar às devastadoras fomes da década de 1980, que causaram a morte de cerca de um milhão de pessoas. A atual ameaça de fome é o resultado de uma combinação de fatores interligados: seca severa, conflitos prolongados e a resposta política inadequada.

O Contexto da Crise Atual

A região mais afetada pela iminente crise alimentar é o Tigray, no norte da Etiópia. O Tigray acabou de emergir de dois anos de conflito intenso, que devastou a região e exacerbou a situação alimentar. O presidente da autoridade interina de Tigray, Getachew Reda, relatou que 91% da população da região semiárida está “exposta ao risco de fome e morte”. Após a assinatura de um acordo de paz com o governo federal em novembro de 2022, Reda afirmou que “milhares de Tigrayans morreram devido à falta de comida” e que as autoridades regionais haviam declarado uma emergência de desastre. No entanto, sem a ajuda substancial do governo central, os recursos disponíveis para enfrentar a crise são extremamente limitados.

Desafios no Acesso à Ajuda Humanitária

Embora o acesso às áreas afetadas seja dificultado para jornalistas internacionais, relatos de mortes por fome estão se tornando cada vez mais frequentes. O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) estima que mais de 20 milhões de pessoas em toda a Etiópia necessitam de assistência alimentar, mas apenas cerca de um terço dessas pessoas está recebendo ajuda. A situação foi ainda mais agravada pela suspensão temporária das entregas de ajuda alimentar pela USAID e pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU, em junho de 2023, devido a denúncias de desvio de suprimentos por parte de soldados federais e autoridades locais.

Felizmente, com a implementação de verificações mais rigorosas, o programa de ajuda alimentar está começando a retomar suas atividades, embora ainda seja insuficiente para atender às necessidades da população afetada. Em dezembro de 2023, a OCHA alertou que “a situação da seca está piorando em algumas partes do norte, sul e sudeste da Etiópia e espera-se que se deteriore ainda mais, a menos que a ajuda alimentar seja ampliada com urgência”.

O Impacto da Seca Prolongada

A crise alimentar na Etiópia é amplificada pela severa seca que afeta o país. Entre 2018 e 2023, as chuvas falharam em grandes partes da Etiópia, com as regiões mais áridas do norte e do leste sendo as mais impactadas. As áreas tradicionalmente mais férteis do sul também foram afetadas. Apesar das chuvas fortes no final de 2023, que provocaram inundações severas em outras partes da África Oriental, a seca prolongada já causou danos irreparáveis na Etiópia, resultando na pior seca em quarenta anos.

As secas são uma ocorrência comum na Etiópia, exacerbadas pelos padrões climáticos de La Niña, que tendem a trazer períodos mais secos para a região. No entanto, a crise climática global agravou a situação. A Etiópia está entre os países mais vulneráveis às mudanças climáticas, com a frequência de secas mais do que dobrando desde 1999. Os cientistas atribuem esse aumento na frequência das secas ao aquecimento global.

Aspectos Políticos e Econômicos

O conflito no Tigray e as condições climáticas adversas não são os únicos fatores na crise atual. As questões políticas e econômicas também desempenham um papel significativo. A gestão inadequada da ajuda humanitária, a corrupção e as tensões políticas entre o governo federal e as autoridades regionais contribuíram para a profundidade da crise. A resposta lenta e ineficaz do governo federal e a falta de coordenação entre as diversas agências humanitárias agravam a situação, tornando a ajuda menos eficaz.

O Futuro da Etiópia e o Caminho a Seguir

O futuro da Etiópia é incerto enquanto o país enfrenta uma crise alimentar iminente. A combinação de seca severa, conflitos prolongados e falhas na resposta política e humanitária cria um cenário desolador. A comunidade internacional e as organizações humanitárias devem intensificar seus esforços para fornecer assistência adequada e eficaz, além de pressionar por soluções políticas sustentáveis para resolver os conflitos internos e promover a estabilidade.

A Etiópia precisa de uma abordagem integrada para lidar com a crise, que inclua não apenas ajuda humanitária emergencial, mas também investimentos em infraestrutura, gestão de recursos hídricos e estratégias para enfrentar a mudança climática a longo prazo. Somente através de um esforço coordenado e abrangente será possível mitigar os impactos da crise atual e construir um futuro mais seguro e sustentável para o país.

 



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